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segunda-feira, 12 de abril de 2010

ENTULHO AUTORITÁRIO ELEITORAL


ENTULHO AUTORITÁRIO ELEITORAL

HEITOR DE PAOLA

10/04/2010

Não sei qual a intenção de Lula ao atacar a ‘justiça eleitoral’ – provavelmente mais um arroubo de autoritarismo megalômano – mas ele tinha toda razão: é preciso uma reforma política neste país que acabe com o entulho que representa a tal ‘legislação eleitoral’. E esta reforma tem que colocar os políticos acima da justiça sim, contrariando a candidata ao prêmio de política mais burra do Brasil: Marina Silva, perto de quem Lula parece uma sumidade, pois ele sabe, e ela parece não saber, que são os políticos que fazem as leis que serão apenas aplicadas pelo judiciário.  Ela confunde por burrice segundo me parece, a Justiça como valor transcendental com o aparelho que aplica as leis positivas aprovadas pelos políticos e deita falação: ‘é para colocar a política nos trilhos da Justiça: da justiça econômica, social e principalmente ética’ (O Globo, 10/04/2010). E esta é uma Senadora e candidata à Presidência, Oh my God!

1 – O primeiro item da reforma deveria ser extinguir esta excrescência que, como a jabuticaba e outras besteiras, só existe aqui com tal estrutura absurda: a tal ‘justiça’ eleitoral (com aspas e minúsculas mesmo). Deveria ser ainda mais ampla e acabar com todas as ‘justiças’ especializadas, como a trabalhista, a da infância e adolescência, etc., enormes cabides de emprego altamente remunerados, e continuar-se pela estatização e informatização total dos cartórios, esta máfia de celerados que nos mantém amarrados a ‘reconhecimentos de firmas’, ‘autenticações de cópias’, certidões escritas em português medieval, idiotices que nem nos mais atrasados países africanos existem mais!

Como sempre me baseio no Direito Anglo-Saxão cito os exemplos da Grã Bretanha e dos EUA, este último já abordado por mim noutro artigo.

A Inglaterra tem algo como um poder legislativo funcionando há 800 anos – há mais de 300, depois da Revolução Gloriosa um Parlamento de forma efetiva - sem que haja ‘justiça eleitoral’. As regras eleitorais são vagas, definem apenas alguns ponto essenciais como a votação por Distrito (constituencies, de dois tipos: vilas e comarcas) e nem fixam o número deles que é objeto de variação segundo se apresentem as necessidades. Somente após 1948 foi definido o princípio “uma pessoa, um voto”, pois até então a pessoa podia votar “em qualquer distrito no qual tivesse uma qualificação de propriedade ou negócios, mesmo que aí não residisse” e somente por esta razão desde então a pessoa só pode votar no distrito em que reside [[i]]. Até 1832 os 45 Representantes da Escócia eram escolhidos pela oligarquia escocesa, e não pelo voto.

Deve haver uma eleição no mínimo de cinco em cinco anos (exceto em tempos de guerra) e o voto é secreto. Qualquer alteração deste intervalo, que é somente uma lei simples e não constitucional, precisa da aprovação da Câmara dos Lordes, para que não haja parlamentos que pretendam se perpetuar. Mas não existe duração mínima: o Monarca pode dissolver o Parlamento a qualquer momento, geralmente aconselhado(a) pelo Primeiro Ministro.

Na época de Dickens as eleições eram tal bagunça que o genial autor critica o processo em seu livro The Pickwic Papers quando descreve de forma hilariante as eleições na vila de Eatanswill [[ii]]. Naquele tempo ainda existia a figura do “candidato de passagem”, um sujeito que chegava num dos dias das eleições, que eram vários, se candidatava e explorava a imensa rivalidade local podendo até mesmo se eleger e nunca mais aparecer no distrito. Hoje não existe mais. Pensam que fizeram uma lei contra isto, como seria no Brasil varonil, com dezenas de artigos definindo até a cor das cuecas dos candidatos? Não, ninguém se importou com isto, tais candidatos foram desaparecendo porque a população não mais vota neles! O processo de eliminação desses absurdos foi político e não jurídico.

2 – Eliminação do voto obrigatório, do voto de analfabetos e dos menores de 18 anos e extinção do Título Eleitoral. O voto obrigatório não existe em nenhum país civilizado onde o voto é um direito e não um dever. Obriga o cidadão que não quer votar a pagar uma multa vexaminosa como se fosse um contraventor ou criminoso ou a comparecer a um lugar aonde não quer ir e anular ou votar em branco. E favorece a criação de uma mentalidade bocó que diz que ‘se não escolheu não pode reclamar depois’. Numa conversa com um americano eu disse que os brasileiros pensavam assim e ele foi na mosca: é um povo que não tem noção de liberdade, então! Isto ocorreu em Fort Worth, Texas, em 1985 e este cara ia votar no dia seguinte 13 vezes! Além de Governador, Representante no Congresso, Senador Federal, Representante na Assembléia e Senador Estadual, votaria no Xerife do Condado, no Juiz e Promotor, no Supervisor Escolar e até no Diretor da Escola de seus filhos, além de várias propostas legislativas! Sua noiva simplesmente ia ficar em casa porque não estava interessada!

O voto dos analfabetos é um absurdo, acho mesmo que algum grau mínimo de escolaridade deveria ser demonstrado. E o dos menores pior ainda, pois podem votar e são praticamente inimputáveis no código penal e não podem ter carteira de motorista. É, portanto, mais um penduricalho demagógico da ‘constituição cidadã’ cujo destino deveria ser a lata do lixo! Sugiro que a idade para votar seja de 25 anos, embora saiba que isto jamais será sequer considerado.

O Título Eleitoral é um documento espúrio que viola o direito do cidadão de não querer participar do processo eleitoral. Cada eleitor, ao comparecer ao local da votação, deveria apresentar algum documento e nada mais.

3- Outra crítica de Lula que procede é a idiotice que impede os governantes de fazerem campanha para si mesmos ou para seus candidatos em qualquer tempo. A gozação de Lula com as multas que recebeu é, no mínimo, procedente. Idiotice é a manifestação do Presidente da AMB (Associação dos Magistrados (ôops!) do Brasil) de que ‘Ele (Lula) está tentando fazer chacota da decisão da Justiça’ (O Globo, idem). Chacota é o ridículo da multa, Herr Doktor (sic) Mozart Valadares Brito. E o povo percebe isto claramente quando entusiasticamente se apressa a dividir a despesa com o Presidente. Chacota é a sua declaração de que ‘Ele (Lula) está dando mau exemplo quando, no exercício do cargo, usa a máquina para apoiar sua candidata e (...) quando tenta desqualificar a Justiça Eleitoral’. Esta, Senhor Doutor Magistrado, não precisa ser desqualificada, já se desqualifica por sua própria existência espúria!

Nos EUA todos sabem que o Presidente começa a campanha para a re-eleição no ato da primeira posse, ou de seu candidato se já cumpriu seu segundo mandato. Na França, na Itália e na Alemanha idem, Presidente e Primeiro Ministro. Na Inglaterra, como não há limite para o número de vezes que alguém é escolhido Prime Minister a campanha é permanente!

Uma outra idiotice é o tal ‘prazo de campanha’, comparando uma disputa eleitoral a um jogo de futebol: só começa quando o árbitro apita agora pode, minha gente! Ridículo é pouco para qualificar esta idiotice. E a tal desincompatibilização, então? Por que a Dilma e o Serra não podem fazer campanha enquanto Ministra e Governador, e a Marina pode sendo Senadora? Por que esta última voltará ao Senado se perder e Serra não poderia se continuasse Governador? Por que Meirelles não pode permanecer como Presidente do Banco Central e ser candidato a Governador de Goiás, como é de seu desejo?

Porque se acredita neste país de hipócritas e cínicos que o sujeito ao largar o cargo não vai usar a tal ‘máquina’ a seu favor. Ora bolas, e seu sucessor no cargo não será nomeado por ele mesmo? E não fará exatamente o que ele faria a seu favor? Só imbecís podem acreditar numa bobagem destas!

4 – Adoção do voto distrital puro, como é em todos os países civilizados. Presidencialistas ou parlamentaristas todos usam o voto distrital. Na Alemanha o voto é misto, havendo também o voto proporcional. Na França é em dois turnos caso nenhum  candidato atinja maioria absoluta, para proteger o pluralidade de partidos. Na Inglaterra e nos EUA é em turno único sendo que the winner take all.Tudo isto seria discutido numa reforma, eu prefiro o sistema americano: presidencialismo com voto distrital puro em turno único.

4 – Justiça de primeira instância – Juízes e Promotores - eletiva assim como chefe de polícia e outras autoridades a serem discutidas. Fim da absurda inamovibilidade de Juízes de primeira instância e Desembargadores de segunda[[iii]].

5 - Fim do escárnio que denominam 'horário eleitoral gratuito', entulho deixado pelos governos militares mas que a esquerda adora!

Enfim, Lula, do alto de Sua Burricência, trouxe à baila um ponto fundamental: a necessidade de uma ampla reforma eleitoral nunca havida ‘neste país’. Os Excelsos Senhores Magistrados que se lixem, pois a voz do povo deveria falar mais alto e liquidar com Suas Prepotências!





[i] Todas as informações sobre o Reino Unido são de The British Constitution, de Sir Ivor Jennings, Cambridge University Press, 1966

[ii] Capítulo XIII, Some Account of Eatasnwill of the State of Parties therein and of the Election of a Member to serve in Parliament for that ancient, loyal, and patriotic Borough, p. 157.

[iii] Num próximo artigo comentarei o enorme problema que vem ocorrendo nos EUA com o Judiciário assumindo cada vez mais poderes Executivos e Legislativos. Sugiro ler The Tempting of America: the Political Seduction of the Law, e Coercing Virtue: The Worldwide Rule of Judges, ambos de Robert H. Bork.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".